quarta-feira, 19 de maio de 2010

NOS PORÕES DA APARÊNCIA


Confesso que ás vezes me causa perplexidade e indignação a forma das aparências serem expostas, ou até avaliadas. Perplexo por notar a falta de percepção dos que se atem só e somente só ao estereótipo do visual superficial, e indignado pela avaliação feita baseado apenas no que os olhos veem.
Seguindo esta linha de análise, encontramos gente aguçando o ciúme ou inveja, como queiram, no outro que não tem o que ele tem, ou o que queria ter antes dele ter. E neste ponto encontramos amigos se distanciando, irmãos rompendo a unidade, subalternos se indispondo contra seus superiores, membros de igrejas denegrindo a imagem de seus irmãos e até do seu Pastor, e assim por diante.
Uma coisa que tenho aprendido nestes meus cinqüenta e cinco anos, é que a convivência tem dupla ação sobre os indivíduos, ou seja, ela os aproxima ou desencanta. E é a convivência que, quase sempre, denuncia o que está armazenado nos porões da aparência.
Quanta gente é avaliada pelo que possui! E aí se deixa prá trás caráter, moral, ética e tantos outros atributos fora de moda hoje em dia. Então o indivíduo vale pelo carro que tem, pela casa e sua mobília, pela escola que o filho estuda, mas ninguém sabe o custo e a dor-de-cabeça que isto tem causado, para que toda esta parafernália seja mantida, a fim de que a aparência seja de um bem-sucedido.
Quanto casal posando de Romeu e Julieta, cheio de amor e beijinhos, mas só fora do arraial doméstico, porque lá, o nojo um do outro é que impera; porque dentro das quatro paredes do quarto não tem mais nada para dar um ao outro até porque a traição quebrou o pouco que restava, e tudo agora é aparência, que quase hermeticamente guardada em seus porões, a muito custo se esbalda lá fora cínica e mecanicamente, e só isto.
Quanto membro de Igreja, que chora, ora, e canta coreograficamente no templo, e fora dele, na surdina, só fala mal dos seus irmãos, e não poupa nem a figura do seu Pastor, mas aos olhos da Comunidade parece ser o indivíduo mais santo da cidade.
Assim que tanto os que são avaliados pelo que possuem, e que ás vezes é muito pouco; como o casal que se apresenta com um amor de novela; e como o igrejeiro que de crente não tem nada, vão ter um dia que abrir os porões de suas aparências e mostrá-los, porque nada fica escondido que não venha á luz; nada fica parecendo com o que não é, sem que se mostre de fato o que é.
Portanto que sejamos francos em mostrar o que somos por dentro, e tenhamos um critério mais sério para que, se querer julgar alguém, o que não é competência de ninguém, que faça de forma que a medida de referência não seja a aparência, porque as aparências enganam, e como enganam!

Abraço e bênção!

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