terça-feira, 30 de novembro de 2010

FUI MOÇO E AGORA SOU VELHO... E DAÍ?




Pr. Clóvis Cunha

Num de seus Salmos, que a gente tanto gosta de ler, Davi canta este fato da vida, qual seja viver, e deixar que o tempo passe, sem aquela ansiedade de vê-lo passar, imaginando que na medida que ele passa nós nos tornamos mais velhos. E daí, que o tempo passe? Ele tem que passar, assim como tudo passa na vida. As alegrias passam, as tristezas passam, os momentos bons e belos se vão, os momentos ruins também voam. Tudo passa. E nós por quê não haveríamos de passar? Pensando assim é que eu digo aos mais moços: Fui moço e agora sou velho e daí? Por acaso e por este motivo ditado e expresso pela natureza, perdi minha identidade, ou a incrementei na medida que o tempo foi passando?
A vida é isto mesmo, e muitos haverão de concordar comigo daqui a uns 15 ou 20 anos. A grande diferença é que vivemos nossas velhices em épocas diferentes, como vivemos nossas infâncias, adolescências, e juventudes, todavia o fato de ser velho não deve ( ou pelo menos não devia ) alijar ninguém, ou marginalizar.
Enquanto o físico vai demonstrando suas características naturais de quem já viveu mais de cinqüenta, sessenta, setenta anos, e a mente vai se mostrando por vezes perversa e de certa forma conspirativa contra a guardar e memorizar fatos e lembranças, a vida do indivíduo como um todo vai demonstrando o grau de experiência adquirida a medida que o tempo passou. Foi por isto que Jetro se apresenta para Moisés e o instiga a se servir de homens habilitados que pudessem ajuda-lo no aconselhamento do povo de sua época. Jetro embora velho tinha experiência suficiente para entender que quem delega função, não diminui autoridade, mormente se esta autoridade vem de Deus.
Fui moço e agora sou velho, mas e daí que o tempo se foi? Eu estou aqui, esbanjando saúde porque me cuidei na minha juventude. Usei da liberdade que sempre tive para não fumar, não encher a cara, não me prostituir, em fim fui moço saudável, e começo a viver uma velhice que aponta para uma vida saudável, a menos que um acidente de percurso aconteça. Fui moço e sempre pensei que quando fosse velho não queria ser mais um, se não um que pudesse ajudar com o que colheu da vida, e ver semeado ensinamentos e princípios que façam da vida, um verdadeiro jardim de roseiras, dos que estão nela começando ou já estão andando com idades inferiores a de quem já atingiu o que se convencionou chamar de velhice.
Fui moço e agora sou velho, e daí?

28 de novembro de 1974, nunca mais vou esquecer deste dia...




Era prá ser um dia qualquer da folhinha do ano de 1974, não fosse uma viagem, das mais estranhas que já havia feito. Embarquei na rodoviária de Pelotas, ás 13:30 hs, num ônibus do Expresso Embaixador. Cercado pelos meus amigos, e com uma tristeza escondida por detrás da expectativa de sucesso no emprego para o que fui classificado ainda como aluno da “Escola”. Deixei minha mãe que ficou chorando em casa, e eu com um baita nó na garganta. Lembro dos que me cercaram naquele dia como se fosse hoje: Maristela, Celoí, Belmira, Julio, Flávio, Osório, Edson, Sérgio, Claudemar, Soleni, Alcir, Maria Silvina e meu pai. Ganhei da Maristela um caderninho de endereços, com os endereços deles todos. A viagem durou aproximadamente três horas e meia; por volta das 16:30hs eu bati á porta da casa do Pr. Etuvino. Era tudo muito estranho. Ruas, pessoas, igrejas em fim...
Dia 28 de novembro de 1974 nunca mais vai sair de mina lembrança, dia em que consegui reunir junto com uma mescla de felicidade e tristeza, a sensação de ser um vencedor, mesmo em meio á incertezas.
Quando saí, o sol brilhava muito. Peguei minha mala, emprestada do Sérgio, meu mano mais velho, contendo uma calça listrada, um terno preto dele, uma camisa branca com bolinhas pretas que eu mal cabia dentro dela, uma gravata estampada do Claudemar, meu mano mais moço, dois pares de meia, duas zorbas, um par de sapatos, dois livros de tecnologia , um “guarda-pó de brim” feito por minha mãe, e a minha Bíblia e só. Fui de muda pra Porto Alegre. Na viagem vi um menininho com seus pais brincando feliz e alegre, e eu trouxe á minha lembrança os momentos em que meu pai ia conosco brincar nos levando pra fazer um pic-nic nos matos do fim da linha do Fragata. Voltou o nó na garganta.
Trinta e seis anos se passaram! Quanta coisa rolou nestas três décadas e meia! Quantos momentos! Num balanço feito hoje, sem muito esforço, vejo o saldo positivo, e quando falo de saldo, é porque houveram momentos ruins neste período, momentos que eu não gostaria que fizessem parte de minhas agendas.
28 de novembro de 1974, um dia que vi como uma porta se abrindo para um caminho que continuo a caminhar, e pra ser bem franco, ás vezes não sei onde ele vai findar. Mas tenho a certeza que aquela porta foi aberta por Deus, e que nesta caminhada Ele não largou de mim nunca. E está me conduzindo pra que se cumpra em mim a vontade dEle pra minha vida. Eu creio.
Nasci, cresci, plantei uma árvore, casei, tive filhas, tenho netas, escrevi um livro, e depois de tudo isto me resta continuar esperando no Senhor dia a dia.
28 de novembro de 1974, mais precisamente o início daquela tarde, nunca mais saiu da minha cabeça... ainda hoje me dá um nó na garganta quando lembro daqueles fins de tardes longe de casa e dos meus...

...e dizer que já já se passaram trinta e seis anos...

...e Deus foi fiel este tempo todo!!! ...

...Hoje, 28 de novembro de 2010, em Curitiba!